Cerimônia Temazcal
(Tenda do Suor)
Origens
O Temazcal é um ritual ancestral que faz parte da cultura mexicana e indígena da Mesoamérica.
Era uma cerimônia concebida como um ritual de limpeza que acontecia antes e depois de batalhas e eventos esportivos.
O que é
O Temazcal é tipo uma sauna a vapor com ervas medicinais com profunda conotação espiritual.
É uma tenda em formato de iglu onde várias pessoas entram com roupas leves e se sentam em posição fetal. O Temazcal representa o útero da mãe Terra. Cada pessoa que entra ali vai viver um renascimento pessoal.
Como funciona
O ritual começa a ser preparado do lado de fora com a aquecimento de várias pedras de rio dentro de uma grande fogueira. Desde a disposição da madeira a ser queimada até a colocação das pedras na fogueira, tudo segue uma ordem e e tem um significado dentro do ritual de preparação. Tudo ali exige respeito, pois é a invocação de energias sagradas de criação.
As pedras são levadas para dentro da tenda pelo temazcaleiro (o guardião do fogo e da água).
Lá dentro há um condutor que puxa cânticos sobre o poder da natureza e toca o tambor.
A cerimônia se desenvolve através de "portas" - assim chamado o momento em que a porta da tenda é aberta para que o temazcaleiro traga as pedras incandescentes, a água e as ervas que serão despejadas sobre as pedras pelo condutor da cerimônia.
Durante cada "porta" são transmitidos ensinamentos ancestrais pelos cantos e ritmo do tambor. Dura mais ou menos umas 2 horas.
Para que serve
O Temazcal serve para todos aqueles que querem se reconectar consigo mesmos, com a ancestralidade e com a natureza.
O vapor d´água e o perfume de ervas medicinais (cipreste, sálvia, gerânio, etc) ajudam a desobstruir os poros da pele, elimina toxinas pelo suor e estimula o aparelho respiratório e imunológico.
É considerado também um processo de cura interior.
Em primeiro plano, Tiare, dentro da tenda enquanto nos preparávamos para o Temazcal Lucas, Eduardo e Amanda, também na espera do Temazcal
Minha experiência no Temazcal
Eu, com o fogo já aquecendo as pedras ao fundo, esperando o início do Temazcal
Yuki, Cris e Heitor, na preparação para o Temazcal |
Eu fui até Apuã/Gamarra/MG, na sede da Spagiros, para conhecer o plantio de agrofloresta com ervas medicinais e o processo de destilação de óleos essenciais.
Mas já no primeiro dia da minha estadia por lá, havia a proposta de participar do TEMAZCAL.
Sabia que era um ritual indígena de origem asteca de purificação em que o calor era utilizado como forma de reconexão.
Lá fui eu.
A preparação consistia em tomar muita água durante o dia, fazer refeições leves e vestir uma roupa fina e fresca.
Estávamos em quase 40 pessoas quando ao cair da tarde entramos na tenda. A estrutura era de bambu e foram colocados muitos cobertores em cima para que o calor ficasse ali dentro.
Todos encolhidos nos sentamos em silêncio, colados uns aos outros. A altura da tenda era muito baixa, de forma que tudo ali realmente lembrava um útero.
Ao centro, havia um buraco onde seriam colocadas as pedras quentes.
A condutora e os ajudantes se sentaram em volta do buraco e nós (os outros participantes) em um círculo maior encostados na tenda.
Começam os cânticos e a colocação de pedras, água e ervas medicinais! O ambiente torna-se quente, úmido e abafado. Você começa a suar e prestar atenção nas letras do que está sendo cantado.
A cada vez que a porta se abria, entravam 7 pedras quentes, balde de água e hidrolatos de ervas - que cada vez eram jogados sobre as pedras quentes e subiam em um aroma de renovação.
E o corpo ia se tornando mole, o suor brotava do corpo inteiro, a boca começava a entoar junto as músicas de reza, a coluna doía, as pernas formigavam, mas a sensação de estar perto de um acontecimento muito bom aumentava.
Na 3ª abertura de porta, eu imaginei que não iria mais aguentar, o calor era quase insuportável, o ar quente entrava de forma difícil pelas narinas, o suor pingava como uma torneira aberta.
Foi aí que me lembrei do motivo de estar ali. Todo mundo tinha ido até aquele lugar buscando justamente isto: renascimento. Tirar da terra o sustento. Respeitar os ciclos. Caminhar com amor. Conexão com a natureza. Vida partilhada. Vivências coletivas.
A pessoa ao meu lado se deitou espremida. A outra, do outro lado, também se espremeu para deitar. O que a gente buscava era nos livrar do medo, da separação, da prisão, do isolamento.
RENASCER. Saudáveis e inteiros.
Senti as extremidades do corpo formigarem e o que prometemos era que se fôssemos participar do ritual ninguém iria sair para não prejudicar a egrégora, o coletivo. Então, abaixei minha cabeça na terra e decidi ficar até o final da cerimônia. Pude sentir o ar enchendo meus pulmões de energia. Fiquei ali com a cabeça baixa, respirando perto da terra onde o ar era mais fresco e agradecendo por tudo, pelo ar, pela água, pelo fogo, pela terra abençoada, por estar naquele lugar com aquelas pessoas, por tudo que eu tinha vivido até chegar ali e por tudo que ainda iria viver.
Fiquei ali com a cabeça perto da terra enquanto a última porta se abria. Senti o calor me abraçando por trás, senti o aroma quente das ervas entrando no meu corpo, me encolhi o máximo que pude e os cânticos pareciam cada vez mais rápidos e altos. Senti-me realmente enterrada no útero da Terra.
Até que a porta se abriu. O ar gelado invadiu a minha narina e me sentei novamente. Depois de um tempo de aclimatação, as pessoas começaram a sair devagar. Não via quem estava ali. Lembro que fiz reverências ao temazcaleiro, à condutora e vesti meu casaco - que tinha deixado na porta.
Entrei numa tenda maior onde a fogueira que aqueceu as pedras ainda estava acesa. Havia mais gente ali, deitados na terra, respirando. Ainda suando, caí deitada por ali na terra ao lado da fogueira para absorver a experiência.
Passaram-se alguns minutos e me levantei. Pude tirar o casaco e espremê-lo porque tinha ficado encharcado de suor. O corpo estava leve, sentia cada milímetro da minha pele pulsando. Alguns participantes entraram na cachoeira gelada. Como já estava escuro, tomei um banho gelado, sem sabão, tomei uma sopa e fui dormir.
A sensação de renovação era evidente.
Renascimento é realmente a palavra.
Depois de 10 dias de ensinamentos e vivências houve um 2º Temazcal, este, com menos participantes numa estrutura de adobe.
Eu não quis participar desse Temazcal final. Ainda estava absorvendo a experiência do 1º. Mas, ajudei na preparação do ritual - desde a escolha das pedras até o entendimento dos significados de cada etapa.
Para quem nunca participou de um TEMAZCAL, eu aconselho que vá sem medo. Mesmo tendo a pressão baixa foi para mim uma experiência muito rica de cura interior. Ahoo!