Valorizar a vida
Na
década de 80 o cantor Eduardo Dusek, satirizando, cantava: “troque, troque seu
cachorro por uma criança pobre”. E hoje o trabalho de pessoas que se preocupam
com o direito dos animais ainda sofre algum tipo de retaliação desse tipo: “Se
fizessem pelos humanos o que fazem pelos bichos...” ou “Queria ver se fosse
gente se eles também tratariam assim...”.
O que
queremos que todo mundo entenda é que nas Sociedades Protetoras dos Animais
está nascendo a semente da transformação pessoal. Gente que se preocupa com sua
harmonia interior, com a saúde do planeta, com a proteção de um ser vivo e está
colocando a primeira pedra para que a sociedade possa mudar para melhor. Um
mundo onde a ligação do homem com a natureza seja respeitada. Um mundo onde se
entenda que o que eu faço afeta a todos ao meu redor, por isso mesmo eu posso
fazer tudo o que eu tenho vontade desde que não prejudique ninguém, desde que
não prejudique a harmonia da vida ao meu redor.
Uma
grande crueldade que os protetores de animais sentem é quando alguém abandona
um animal doméstico. Como já disse o cantor Roberto Carlos em uma música:
“animal ferido, domesticado esquece o risco.”. Um animal que nasceu em
cativeiro dificilmente sobrevive se for solto. Em especial os cães e gatos,
além do perigo do atropelamento por automóveis, muitos pegam doenças e por não
saberem caçar acabam morrendo de fome nas estradas e nas esquinas. E aquilo que
você faz de mal para os outros sempre volta mais forte para você.
Está na
Bíblia que Deus criou o homem no 6˚ dia, quando a natureza já estava pronta
para recebe-lo e apesar de perder o direito a imortalidade por comer o fruto da
Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, ainda assim o homem permaneceu na
espécie em que foi criado, com mente e alma, com domínio sobre os outros
animais. É necessário que o homem, sabendo disso, tenha um enorme sentimento de
gratidão para com a vida e respeite a
evolução de cada ser.
Acolher
e respeitar a cada ser vivo é uma obrigação humana. Ninguém está pedindo para
você sair por aí tentando salvar as baleias ameaçadas de extinção. Queremos que
faça o possível para cuidar bem daquele ser vivo que você tem em casa, seja
ele um cachorro, um gato ou um
passarinho. Se chegou a conclusão de que não tem recursos (se não tem espaço em
casa, não tem tempo, não tem paciência ou não tem dinheiro para tratar) então
procure doá-lo para alguém que esteja disposto a ficar com ele ou procure a
Associação Protetora dos Animais. Nunca o abandone na rua ou num lote
vazio. Isso é crueldade extrema.
E,
principalmente, antes de pegar um animal e levar para casa, lembre-se que assim
como se fosse um humano, o animal vai exigir de você: tempo, carinho, dinheiro,
espaço e cuidados. Se não pode, não pegue. Assim vai ser melhor para você e
para ele.
Qual é o
trabalho da Associação Protetora dos Animais?
É
proteger os animais silvestres contra a violência humana e proteger os animais
domésticos contra o descaso e o abandono. Ninguém duvida que é mais importante
alimentar uma criança do que salvar um animal da fome. Mas esperamos que chegue
um dia em que não seja preciso escolher a quem alimentar, pois haverá comida e
acolhida para todos.
E quando
alguém pergunta: “ah, por que perder tempo resgatando cachorros abandonados se
há tantas questões mais urgentes para serem tratadas?”. Respondemos
simplesmente que não há questão mais importante do que a vida, seja a minha, a
sua ou a de um gato.
Queremos
que as próprias crianças sejam envolvidas nesse trabalho de proteção dos
animais, para criar uma nova consciência coletiva.
Porque
quando resgatamos cachorros ou gatos que um dia foram abandonados nas ruas de
Votuporanga, não estamos querendo apenas salvar as vidas desses animais.
Queremos muito mais, queremos resgatar os valores humanistas já um pouco esquecidos.
Resgatar o amor à natureza, resgatar a harmonia entre os seres, resgatar a
compaixão, resgatar a solidariedade, a empatia, o trabalho em equipe, resgatar
acima de tudo aquele sentimento que se bem cultivado como semente pode dar
muitos frutos: a valorização da vida.
Esse texto eu fiz para Neide Romani que me pediu que escrevesse sobre a crueldade que é o abandono de animais domésticos.